domingo, 9 de junho de 2013

Pré-estréia do filme Doméstica em Porto Alegre

A Sala de Cinema Paulo Amorim – na Casa de Cultura Mário Quintana – recebeu neste sábado (8 de junho), o seminário “Cinema Brasileiro Pra Quem?”. Promovido pela Associação de Críticos de Cinema do RS (Accirs) e a Cinemateca Paulo Amorim. Este encontrou visou ampliar a discussão sobre o conceito de “cinema irrelevante” proposto pelo crítico Jean-Claude Bernardet, que trata dos filmes que se apresentam como “irrelevantes” à lógica economicista e de mercado porém, com boa avaliação da crítica, destacando-se narrativa e esteticamente dos demais. Para debater este tema estavam presentes o documentarista Eduardo Escorel, o cineasta Jorge Furtado e o jornalista Luiz Zanin Oricchio, presidente da Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Como encerramento, tivemos a pré-estréia do documentário “Doméstica”, de Gabriel Mascaro.

Em “Doméstica” a câmera não penetra, ela demarca o lugar do outro. O lugar da empregada doméstica, que é [quase] da família. Na sinopse lemos: “sete adolescentes registram, por uma semana, o cotidiano de suas empregadas domésticas”. É deste ponto de vista que a narrativa é construída. É este o ponto de vista que a câmera assume: “suas empregadas domésticas”. Sua: pronome possessivo feminino; próprio ou relativo à 3ª pessoa do discurso

As trajetórias destas mulheres além de superficiais se apresentam de forma estática, negando uma tomada de consciência dos tempos superpostos que hierarquizam seus projetos de vida e delineiam o percurso de suas trajetórias. O tempo existente é do trabalho, é do doméstico. Esse tempo nunca é distendido, ele sempre é cortado ora por um telefone que toca, ora pela mão do próprio diretor/editor Gabriel Mascaro.

O filme se propõe como um ensaio sobre afeto e trabalho. Paradoxalmente o que mais falta é afeto. Os diálogos – que revelariam uma relação de afeto mútuo – são mínimos, o que vemos são respostas monossilábicas por parte das trabalhadoras e perguntas superficiais por parte dos adolescentes. Estes, protagonistas no discurso – quem segura a câmera é quem conta a história. Enquanto as domésticas, são o objeto do olhar do outro. Assim como, “Nanook, O Esquimó”, de Robert Flaherty, visível em sua prática, mas ausente em sua subjetividade.

O problema de “Doméstica” está na câmera que caiu em mãos erradas, provando que nem sempre imagens brutas podem ser salvas por uma edição bem intencionada.

Título: Doméstica
País: Brasil
Tempo: 85 minutos
Ano: 2013
Direção: Gabriel Mascaro



post scriptum: A pré-estréia do filme “Doméstica” foi antecedida por um debate muito interessante sobre o conceito de “cinema irrelevante”, perpassou as leis de incentivo e culminou na falta de um público que prestigie o cinema nacional. Pois bem, ao longo deste debate a sala estava lotada, com aproximadamente 120 pessoas. Após o coquetel, destas 120 pessoas, 20 (sendo generosa) permanecerem para prestigiar o filme de Gabriel Mascaro, “Doméstica”.

Deixo as conclusões para você, caro leitor!

Nenhum comentário: