A
Sala de Cinema Paulo Amorim – na Casa de Cultura Mário Quintana –
recebeu neste sábado (8 de junho), o seminário “Cinema Brasileiro
Pra Quem?”. Promovido pela Associação de Críticos de Cinema do
RS (Accirs) e a Cinemateca Paulo Amorim. Este encontrou visou ampliar
a discussão sobre o conceito de “cinema irrelevante” proposto
pelo crítico Jean-Claude Bernardet, que trata dos filmes que se
apresentam como “irrelevantes” à lógica economicista e de
mercado porém, com boa avaliação da crítica, destacando-se
narrativa e esteticamente dos demais. Para debater este tema estavam
presentes o
documentarista Eduardo Escorel, o cineasta Jorge Furtado e o
jornalista Luiz Zanin Oricchio, presidente da Associação Brasileira
de Críticos de Cinema. Como encerramento, tivemos a pré-estréia do
documentário “Doméstica”, de Gabriel Mascaro.
Em
“Doméstica” a câmera não penetra, ela demarca o lugar do
outro. O lugar da empregada doméstica, que é [quase] da família.
Na sinopse lemos: “sete adolescentes registram, por uma semana, o
cotidiano de suas empregadas domésticas”. É deste ponto de vista
que a narrativa é construída. É este o ponto de vista que a câmera
assume: “suas empregadas domésticas”. Sua:
pronome
possessivo feminino; próprio ou relativo à 3ª pessoa do discurso.
As
trajetórias destas mulheres além de superficiais se apresentam de
forma estática, negando uma tomada de consciência dos tempos
superpostos que hierarquizam seus projetos de vida e delineiam o
percurso de suas trajetórias. O tempo existente é do trabalho, é
do doméstico. Esse tempo nunca é distendido, ele sempre é cortado
ora por um telefone que toca, ora pela mão do próprio
diretor/editor Gabriel Mascaro.
O
filme se propõe como um ensaio sobre afeto e trabalho.
Paradoxalmente
o que mais falta é afeto. Os diálogos – que revelariam uma
relação de afeto mútuo – são mínimos, o que vemos são
respostas monossilábicas por parte das trabalhadoras e perguntas
superficiais por parte dos adolescentes. Estes, protagonistas no
discurso – quem segura a câmera é quem conta a história.
Enquanto as domésticas, são o objeto do olhar do outro. Assim como,
“Nanook, O Esquimó”, de Robert Flaherty, visível em sua prática,
mas ausente em sua subjetividade.
O problema de “Doméstica” está na câmera que caiu em mãos erradas, provando que nem sempre imagens brutas podem ser salvas por uma edição bem intencionada.
Título:
Doméstica
País:
Brasil
Tempo:
85 minutos
Ano:
2013
Direção:
Gabriel
Mascaro
post
scriptum:
A pré-estréia do filme “Doméstica” foi antecedida por um
debate muito interessante sobre o conceito de “cinema irrelevante”,
perpassou as leis de incentivo e culminou na falta de um público que
prestigie o cinema nacional. Pois bem, ao longo deste debate a sala
estava lotada, com aproximadamente 120 pessoas. Após o coquetel,
destas 120 pessoas, 20 (sendo generosa) permanecerem para prestigiar
o filme de Gabriel Mascaro, “Doméstica”.
Deixo
as conclusões para você, caro leitor!
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